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A estratégia para a alimentação saudável não pode ficar na gaveta

A estratégia para a alimentação saudável não pode ficar na gaveta
16 de Outubro de 2018

Espera-se que as mudanças ocorridas no Ministério da Saúde não ponham em causa o rumo recém iniciado.


Uma em cada dez famílias portuguesas pode estar em insegurança alimentar, enquanto 22% da população apresenta obesidade. O que há de errado no sistema alimentar em Portugal?


Como decidimos o que comemos? Porque não fazemos melhores opções?

As respostas a estas questões são complexas. Todos os dias tomamos mais de 200 decisões para escolher o que comemos. Os dados mostram que a capacidade de decisão dos portugueses em relação à organização de uma alimentação saudável tem vindo a degradar-se.


As pessoas têm alterado de forma negativa o seu perfil alimentar ao longo das últimas décadas. Cada português tem disponível atualmente cerca de 3500 calorias por dia, mais 427 calorias do que há 40 anos! As calorias, quando excessivas ou insuficientes, estão na origem de problemas de saúde que afetam milhões de pessoas.


O nosso organismo tem a capacidade de transformar os alimentos em nutrientes e assim satisfazer as suas necessidades energéticas. Embora as calorias sejam essenciais para a saúde e sobrevivência humanas, o aumento da disponibilidade energética que se tem vindo a verificar em Portugal representa um grave problema para a saúde da população.


Mas, para além da excessiva disponibilidade de energia, assistimos a alterações no padrão alimentar que em nada contribuem para a nossa saúde, afastando-nos da saudável dieta mediterrânica. Temos aumentado excessivamente a disponibilidade dos vários alimentos, principalmente naqueles que têm origem animal.


Em quatro décadas, a disponibilidade de carne duplicou, enquanto as gorduras de proveniência animal triplicaram e as restantes aumentaram de forma consistente. O consumo de sal representa o dobro do recomendado e o de açúcar manteve-se sempre elevado, contribuindo na atualidade com 13% para o valor energético diário, estando visivelmente acima da recomendação da OMS.


Urge modificar o sistema alimentar português. Na anarquia e desinformação em que vivemos proliferam pressões múltiplas e contraditórias que, inevitavelmente, acabam por prejudicar o consumidor. Se continuarmos a considerar a alimentação apenas como um problema individual e não uma responsabilidade coletiva não seremos capazes de concretizar a garantia do direito humano a uma alimentação adequada.


Em Portugal, os governos tardam em encontrar um rumo na definição e implementação de uma política adequada às questões da alimentação e nutrição.


A alimentação tem estado em destaque na agenda política da União Europeia devido ao peso das doenças crónicas não transmissíveis. A nível nacional, respondemos primeiro com a criação da Plataforma Contra a Obesidade (2007), seguidamente com o Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (2012) e, mais recentemente, com a Estratégia Integrada para a Promoção da Alimentação Saudável (2017).


Hoje, Dia Mundial da Alimentação, é ocasião para recordar que a FAO (organização a que se deve a comemoração deste dia), no já longínquo ano de 1974, na conferência mundial de alimentação, em Roma, desafiou todos os países a implementar uma política de alimentação e nutrição.


Foram necessários mais de 40 anos para Portugal criar formalmente uma política pública de promoção da alimentação saudável, pela mão do secretário de Estado adjunto e da Saúde, Fernando Araújo. Espera-se que as mudanças ocorridas no Ministério da Saúde não ponham em causa o rumo recém iniciado. A saúde dos portugueses não pode esperar mais 40 anos pela implementação da Estratégia Integrada para a Promoção da Alimentação Saudável.


A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico



Fonte: Público, edição online, 16 de outubro de 2018