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ARTIGO DE OPINIÃO | OS DESAFIOS DE CUIDAR DA NUTRIÇÃO NO SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE: OLHAR PARA O FUTURO

ARTIGO DE OPINIÃO | OS DESAFIOS DE CUIDAR DA NUTRIÇÃO NO SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE: OLHAR PARA O FUTURO
18 de Março de 2023

A importância da criação do Serviço Nacional de Saúde (SNS) em Portugal e a sua positiva evolução nas últimas décadas, é um facto incontestável. De um evidente consenso e valor insubstituível, o SNS tem-se afirmado como um dos melhores sistemas de saúde do Mundo, reforçando assim a importância da construção deste património inigualável, que já conta com 43 anos, e que protege os cidadãos com um direito incomutável: a garantia da proteção da saúde.

No entanto, e pese embora a sua notável missão pública, ao SNS identificam-se algumas fragilidades de caráter estrutural e organizacional que apesar de se tentarem colmatar com reformas, numa tentativa de resposta a diferentes dificuldades do sistema, torna-se fundamental a continuidade de um caminho cada vez mais coeso, que obrigue a uma abordagem e visão integrada dos cuidados de saúde e de adaptação a novas realidades, desafios e cenários (muitas vezes inesperados, como a pandemia de COVID-19).

Portugal, nas últimas décadas, conseguiu uma grande evolução nos indicadores de saúde, nomeadamente no que diz respeito ao aumento da esperança média de vida e à diminuição na mortalidade infantil, mas mesmo assim o sistema enfrenta, atualmente, características de uma população cada vez mais envelhecida e com uma elevada carga de doenças crónicas.

Vivemos, assim, um tempo da saúde pública caracterizada pela elevada prevalência de patologias que se prolongam no tempo, como as doenças cardiovasculares e respiratórias, o cancro e a diabetes mellitus, representando estas doenças 86% das mortes. Para além disso, tratam-se de patologias que necessitam, por norma, de tratamento prolongado e resultam num enorme aumento dos custos relacionados.

Este atual perfil demográfico e epidemiológico reflete as evidentes alterações da sociedade portuguesa, sobretudo no que diz respeito a novos estilos de vida, incluindo os comportamentos alimentares, pressionando o SNS com destas patologias que deveriam ter uma forte intervenção preventiva, sendo necessário reconsiderar as prioridades em saúde.

Ao longo das últimas décadas, Portugal assistiu a um processo de modificações sequencial no padrão de consumo alimentar que se traduziu na predominância de doenças crónicas e na redução de anos de vida saudável. Assim, o objetivo será atingir-se uma nova transição nutricional, através da mudança de comportamentos, para um padrão alimentar saudável, como se tem verificado em outros países desenvolvidos.

A alimentação é um dos determinantes com mais impacto na saúde e no combate de algumas doenças, tornando-se fundamental a definição de políticas que elevem a qualidade dos cuidados e a eficiência de recursos, bem como estratégias de promoção da saúde, com foco na nutrição, analisando as particularidades do indivíduo e a comunidade onde se insere.

Na verdade, será importante reiterar (e as vezes que forem necessárias) que grande parte das doenças de progressão lenta e duração prolongada podem ser prevenidas e reduzidas com uma forte intervenção nutricional, onde o nutricionista pode e deve fazer a diferença.

Portugal nunca conseguirá, verdadeiramente, promover a saúde da população se desvalorizar as questões alimentares e nutricionais, devendo olhar para estas temáticas numa perspetiva integrada e global, assegurando por um lado o direito à alimentação adequada e, por outro lado, estratégias eficazes para melhorar a saúde nutricional da população.

O futuro do SNS passa também pela nutrição e pelos profissionais nesta área. Desta forma, será importante repensar o número adequado de nutricionistas, bem como o modelo de acesso aos cuidados de nutrição. Aos nutricionistas caberá sempre lugar para mais e melhor nutrição em prol da população, em diferentes estruturas do SNS, pela importância da atuação destes profissionais na qualidade de cuidados de saúde prestados.


Fonte: Jornal I (Inevitável), 14 de março de 2023