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Melhorar a nutrição através do Nudge

Melhorar a nutrição através do Nudge
07 de Outubro de 2020

Projetos Expresso A arquitetura da escolha – Nudge – é uma teoria que tenta explicar as nossas decisões e está a ganhar terreno em várias áreas. Uma delas é a alimentação e nutrição.


Trata-se de uma teoria recente que procura explicar o processo de decisão. O Nudging, ou arquitetura da escolha, tem sido utilizada por diferentes governos para influenciar decisões dos cidadãos em diferentes áreas. Uma delas é a nutrição, como explicou Diogo Gonçalves, fundador da Nudge Portugal, com um vasto percurso académico na área da economia comportamental.


"Se colocarmos uma batata frita vermelha de cada dez, numa embalagem de pringles, o consumo cai para 50%", exemplificou Diogo Gonçalves, primeiro orador do ciclo de conferências "Nudge, o poder da decisão", organizado pelo Expresso. A experiência foi realizada nos EUA, em 2012, pelo investigador Brian Wansink, especialista em padrões de consumo, comportamento e marketing. O objetivo era reduzir o consumo de fritos e promover uma alimentação saudável.


Nascido do livro "Nudge: o empurrão para a escolha certa", dos economistas Richard Thaler e Cass Sunstein, o conceito tem captado a atenção de investigadores, sociólogos, políticos e marketeers. Na conferência desta tarde - a primeira de um ciclo três - o tema foi a nutrição e alimentação saudável, que contou com Paulo Monteiro, Diretor de Responsabilidade Social e Corporativa da Auchan Retail Portugal Maria João Gregório, Diretora do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável da Direção-Geral da Saúde José Camolas, Vice-Presidente da Ordem dos Nutricionistas Bruno Santos, Public Affairs & Media Relations da DECO-Proteste.


Estas são as principais conclusões:


Literacia

Numa experiência levada a cabo num supermercado do grupo Auchan, os consumidores alteraram substancialmente os seus padrões de consumo de verduras devido a uma simples mensagem baseada no conceito Nudge: "as famílias mais saudáveis levam 11 produtos de legumes e fruta em cada visita a esta loja. E você?" O objetivo era comercial mas tinha também ideia subjacente: aumentar o consumo de produtos saudáveis. "Temos procurado identificar as várias possibilidades para introduzir pequenas alterações que induzam uma mudança dos comportamentos", disse Paulo Monteiro, Diretor de Responsabilidade Social e Corporativa da Auchan Retail PortugaI.


Nutrição

"Os nutricionistas estão cada vez mais ligados ao comportamento", disse José Camolas, vice-presidente da Ordem dos Nutricionistas, reconhecendo que uma nano-intervenção baseada no conceito de Nudge pode mudar o padrão de consumo de um paciente. A questão é "manter esse comportamento". "Tomamos 200 decisões alimentares por dia, que variam em função de coisas tão simples como o tamanho do prato. Mudar um comportamento e mantê-lo ao longo do tempo é extremamente difícil. Deduzimos à partida que o interlocutor está preparado para a mudança de comportamento, mas esta pode ser pontual. O grande trabalho é perceber durante quanto tempo essa mudança se manteve", disse o clínico especialista em obesidade.


Marketing

Várias marcas têm adotado campanhas baseadas no conceito de Nudge. Ou seja, em vez de um anúncio na televisão, tentam atuar no momento da decisão. "O marketing vai-se apropriar da estratégia Nudge nas suas diversas formas. O exemplo das pringles - que levou a uma redução de 50% no consumo de batatas fritas - pode ser um ótimo negócio para a saúde dos consumidores, mas não para a marca. Até que ponto as marcas estarão disponíveis para isso?", questionou Bruno Santos, da DECO-Proteste. "Para nós o importante é conseguir que o consumidor faça uma escolha informada."


Ciência

Sendo uma teoria recente, durante o debate falou-se várias vezes da necessidade de ter evidências científicas do Nudge. "Falta investigação e substância. E a segurança de que o empurrão é dado no sentido certo. Há ou não liberdade de escolha?", questionou José Camolas. Para Bruno Santos, da DECO, é necessário "balizar o limite" da teoria e confrontá-la com técnicas de venda. "O nudge pode também dar um empurrão a uma ideia que se formou na cabeça dos consumidores: o que é saudável é tendencialmente mais caro", disse Camolas. "Há zonas nos hipermercados que são inatingíveis ao português comum. É preciso utilizar este sistema nos produtos e momentos certos, para ultrapassar a barreira do preço que torna inacessível certos produtos."


Empresas

Convidado a encerrar o primeiro dia de conferências, João Torres, Secretário de Estado do Comércio, Serviços e Defesa do Consumido, lembrou o papel das empresas e a importância do conhecimento destas da economia comportamental. "O Nudge pode desempenhar um papel muito significativo", afirmou, sublinhando que o comportamento humano "nao é o 100% racional". Nós, consumidores, nem sempre tomamos as decisões perfeitas. Temos de aproveitar o Nudge para o bem. É muito importante que as empresas o façam neste sentido."



Fonte: Expresso, online, 6 de outubro de 2020