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Artigo de Opinião | Obesidade: o que o espelho não reflete e os filtros não escondem

Artigo de Opinião | Obesidade: o que o espelho não reflete e os filtros não escondem
22 de Maio de 2021


O excesso de filtros disponibilizados nas redes sociais tem vindo a ter um grande impacto na vida dos mais jovens, que aspiram a uma beleza irrealista e a um corpo imaginariamente perfeito. Com um simples smartphone, facilmente conseguimos ajustar gorduras a mais, arredondar o olhar ou, até mesmo, aumentar um pouco os centímetros que medimos.

 

A necessidade de transmitir uma imagem perfeita está a ter resultados nefastos nos mais novos e até já há um nome para este problema real, “Dismorfia do Snapchat”, que leva a que cada vez mais jovens, em todo o mundo, demonstrem insatisfação com a sua imagem corporal, podendo levar a transtornos alimentares, ou a desejarem realizar cirurgias plásticas para ficarem tal e qual como nas imagens resultantes dos filtros disponibilizados por estas plataformas.

 

Mas a vida (como tão bem sabemos) e a nossa saúde não são feitas de filtros e aparências. Não queremos corpos perfeitos a qualquer custo, queremos, sim, jovens saudáveis e felizes, que se saibam alimentar bem e que tenham um peso adequado. Contudo, o que verificamos, tanto em Portugal, como no mundo, é que existem diferentes alterações dos comportamentos alimentares, resultando, muitas das vezes, em excessos.

 

E como este sábado, dia 22 de maio, se assinala o Dia Nacional da Luta Contra a Obesidade, vamos por na mesa um dos grandes problemas diretamente relacionado com os hábitos alimentares inadequados: a obesidade. Lembremo-nos que uma em cada doze crianças portuguesas tem obesidade, o que lhes pode condicionar a vida presente e o seu futuro. O que o espelho não reflete e o filtro não esconde.

 

Sabia que uma das queixas de quem sofre de obesidade está relacionada com as dificuldades na mobilidade? Consegue imaginar o que é não conseguir apertar o sapato? É uma imagem difícil de digerir, mas é real e precisa de ser assimilada para que possamos, por um lado, prevenir que a tal extremo cheguemos, e por outro lado, encontrar respostas para todos aqueles que sofrem diariamente com este problema.

 

Sabia que a obesidade e a apneia de sono estão fortemente interligadas? Certamente também poderá não saber que as pessoas com obesidade têm maior risco de desenvolver doenças respiratórias, como é o caso de asma.

 

Facilmente se recorda que ter obesidade é um risco acrescido para quem tiver COVID-19. Depois da idade avançada, a obesidade foi mesmo considerada o maior fator de risco, existindo uma grande probabilidade de quem sofrer desta patologia e for infetado pelo novo coronavírus possa ser internado e, até mesmo, necessitar de cuidados intensivos.

 

A obesidade pode ser a causa destes e de tantos outros problemas de saúde, como diabetes ou hipertensão. Não é fácil encontrar um indivíduo com obesidade que não tenha outros problemas de saúde associados. Assim como não é fácil detetarmos estes problemas submersos quando nos vemos ao espelho. É também por isso fundamental que as nossas crianças e jovens percebam que a saúde não se disfarça com filtros e que é essencial a adoção de comportamentos saudáveis desde cedo e, nomeadamente, mas não só, no que à alimentação diz respeito.

 

Não nos esqueçamos que a alimentação inadequada é um dos principais fatores de risco modificáveis que mais contribui para a mortalidade e morbilidade e, em Portugal, os hábitos alimentares inadequados são o quinto fator de risco para a perda de anos de vida saudável.

 

Como não existe uma aplicação que prolongue os anos de vida saudáveis, vamos começar pelo essencial e pelos mais novos. É fundamental encontrar novas formas de prevenir e tratar a obesidade utilizando estratégias que sejam mais interessantes para as crianças e jovens. As ferramentas digitais podem ser coadjuvantes nestas estratégias, tornando a comunicação adaptada aos seus gostos e interesses e auxiliando os mais jovens a terem comportamentos saudáveis, também na alimentação.

 

Sabemos que existe um conjunto de estudos para intervenções nutricionais com recurso às tecnologias de informação e comunicação que mostram resultados clínicos e comportamentais positivos nas crianças e jovens. Resta-nos pô-los em prática.

 

Contemos com os nutricionistas para auxiliar na implementação de uma estratégia alimentar para os mais jovens, não descartando o auxílio das ferramentas digitais. Boas escolhas são o melhor filtro possível para que os mais jovens de hoje sejam os adultos com saúde de amanhã.

 



A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

Alexandra Bento, Bastonária da Ordem dos Nutricionistas


 

 


Fonte: Público, edição online, 22 de maio de 2021