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Unidos contra o desperdício alimentar, por um futuro mais justo

Unidos contra o desperdício alimentar, por um futuro mais justo
05 de Junho de 2021

Sabia que em média, cada português, poderá estar a desperdiçar 100 quilos de alimentos por ano? É verdade, 17% da produção anual será deitada ao lixo, o que equivale a 1 milhão de toneladas de alimentos.  E se analisarmos ao nível global a tendência não se inverte, agrava-se, com um terço dos alimentos produzidos para consumo a ser desperdiçado. Perante estes dados alarmantes, avançados pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), compreendemos porque é que este problema de escala global se tem vindo a assumir como uma prioridade pública e política, nos últimos anos.


O desperdício alimentar pode ocorrer na produção, no processamento, no armazenamento, muitas vezes também no embalamento e no transporte e, claro, na distribuição e no consumo. No caso nacional, se analisarmos de perto os dados do desperdício alimentar no sistema alimentar de 2012 (últimos dados disponíveis!) verificamos que 32,2% ocorre nas atividades agropecuária e piscatória; 7,5% na indústria alimentar; 28,9% na distribuição e 31,4% nas nossas casas.


A atual crise pandémica agravou o risco de insegurança alimentar da população portuguesa, em que um em cada três portugueses pode ter vivenciado dificuldade no acesso a alimentos suficientes para satisfazer as suas necessidades nutricionais.  Neste sentido, importa garantir um emparelhamento entre as medidas de redução do desperdício alimentar com as situações de insegurança alimentar existentes em Portugal. Se pensarmos que cada um dos 4 milhões de agregados familiares em Portugal pode deitar ao lixo uma maçã por semana, contas feitas, serão desperdiçadas mais de 30 000 toneladas por ano deste alimento. Um valor bastante significativo, ainda mais quando coexistem situações de insegurança alimentar e de procura de ajuda alimentar por uma franja crescente de portugueses e simultaneamente, de alimentos que simplesmente são deitados fora.


Perante este cenário, e a par com a União Europeia, Portugal definiu uma meta de redução do desperdício alimentar para metade, per capita, até 2030, no contexto da transição climática e da promoção de uma gestão sustentável dos recursos, de acordo com o definido nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.


Também a Comissão Europeia, na estratégia “Farm to Fork” (Do Prado ao Prato), aponta ações para prevenir o desperdício de alimentos e irá propor metas juridicamente vinculativas para reduzir este flagelo na União Europeia, até o final de 2023.


Em Portugal, 2016 sagrou-se o ano nacional do combate ao desperdício alimentar, tendo sido criada a Comissão Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar. Volvidos dois anos, no seguimento do trabalho realizado por esta Comissão, foi aprovada a Estratégia Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar, com 14 medidas para prevenir, reduzir e monitorizar este desperdício.


Entretanto, volvidos cinco anos desde o assinalar desta data e, pelos meandros dos diferentes capítulos, assistimos a um conjunto de outras iniciativas de combate ao desperdício alimentar, nomeadamente pela mão da Assembleia da República, com discussão de recomendações ao Governo e de propostas de disposições legais. Mas, também assistimos à implementação de um conjunto de louváveis projetos com o mesmo propósito, promovidos por associações não governamentais e por diversos setores de atividade, como a restauração e a distribuição alimentar.


Combater o desperdício de alimentos não é tarefa fácil, significa trabalhar em conjunto com todos os atores dos setores público, privado e da sociedade civil, para melhor identificar, medir, compreender e encontrar soluções para prevenir e reduzir o desperdício alimentar, a par de uma forte consciencialização e de medidas legislativas. Urge, por isso, que todos não se demitam desta responsabilidade social, económica e ambiental e que estejam em estreita articulação.


É fundamental que as medidas de prevenção e redução do desperdício alimentar sejam ajustadas à realidade portuguesa, procurando, por um lado, diminuir a pegada ecológica deste enorme problema, bem como a pressão que causa nos ecossistemas e, por outro, garantir a realização do direito humano a uma alimentação adequada e sustentável para todos e para cada um dos cidadãos.


Todos e cada um de nós desempenha um papel principal nesta peça, do prado ao prato. Só assim, todos juntos e em uníssono, poderemos construir um futuro mais justo.






Alexandra Bento, Bastonária da Ordem dos Nutricionistas

Fonte: Observador, online, 05 de junho de 2021