Um quarto das vagas ocupadas por técnicos que já estão no SNS. Ordem lamenta "falta de vontade política"
Três anos e um milhar de entrevistas depois, foí finalmente publicada a lista de ordenação final dos candidatos ao concurso público para colocar 40 nutricionistas nos centros de saúde. À fase final chegaram 389 candidatos de um total de 986 admitidos. Apenas 40 serão aproveitados, dos quais cerca de um quarto já trabalham no Serviço Nacional de Saúde (candidataram-se para regularizar a situação na carreira) e, por isso, não representam um acréscimo na resposta aos utentes. A Ordem dos Nutricionistas lamenta "a falta de vontade política" para evitar o desperdício de quase 350 profissionais com "excelente percurso curricular" e "tão necessários" nos cuidados primários.
Nos últimos dois anos, a Ordem dos Nutricionistas insistiu com o Ministério da Saúde para que regularizasse a situação dos profissionais que já estão no Serviço Nacional de Saúde (SNS), de modo a libertar as vagas do concurso para novos nutricionistas; e pediu que, face "ao enorme esforço do júri", que durante meses a fio fez centenas de entrevistas aos candidatos, se duplicasse o número de vagas. Em vão.
Declarações da Bastonária da Ordem dos Nutricionistas
Antena 1 - Notícias
LACUNA DE 700 PROFISSIONAIS
"Vamos voltara dizer o mesmo, mas a sensação que dá é que estamos sempre a repetir e não há vontade política para mudar", referiu ao JN Alexandra Bento, bastonária dos Nutricionistas. Nos centros de saúde, há pouco mais de uma centena de nutricionistas a trabalhar, o que fica muito aquém das necessidades. Os rácios previstos pela Ordem recomendam um nutricionista por cada 12 mil habitantes, o que significa que "há uma lacuna de cerca de 700 nutricionistas nos cuidados primários". Número que está longe de ser resolvido com o ritmo de recrutamento dos últimos 20 anos: dois concursos para o SNS, num total de menos de 30 vagas.
A contratação de nutricionistas e psicólogos para os centros de saúde é uma promessa antiga do atual Governo, que avançou com o ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes. Os dois concursos (com 40 vagas cada) abriram a 27 de agosto de 2018, tendo concorrido milhares de pessoas. Para o dos nutricionistas, foram admitidos 986 candidatos e, para o dos psicólogos, 2466 (já excluindo os concorrentes que não apresentaram a documentação completa). Pelo elevado número de candídatos, o concurso dos psicólogos ainda está mais atrasado do que o dos nutricionistas (ler abaixo).
A lista de ordenação final dos candidatos ao concurso dos nutricionistas foi publicada ontem em Diário da República, mas a colocação não é automática. Se algum candidato interpuser recurso, em dez dias úteis, o concurso será suspenso, como refere o aviso. Se não houver recurso, os candidatos serão colocados nos centros de saúde, onde durante dois anos farão o estágio de especialidade com vista à obtenção do grau de especialista no ramo nutrição. Só depois entram na carreira de técnico superior de saúde e serão autónomos, explicou Alexandra Bento.
SABER MAIS
300 nos hospitais e cerca de 100 nos centros de saúde. O Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem pouco mais, de 400 nutricionistas, muito abaixo dos rácios recomendados.
250 nutricionistas do SNS não estão na carreira de técnico superior de saúde, estima a Ordem. São apenas técnicos superiores e ficam prejudicados a nivel remuneratório. Por isso, muitos aproveitaram o concurso para obter o grau de especialista e entrar na carreira.
ATRASO
Admissão de psicólogos só lá para outubro A saga do concurso dos psicólogos é ainda mais penosa do que a dos nutricionistas. O procedimento abriu na mesma data (27 agosto de 2018), mas ainda não foi publicada a lista de ordenação final dos candidatos. O júri teve de entrevistar quase 2500 concorrentes e, tal como no caso dos nutricionistas, o processo esteve suspenso durante cerca de quatro meses na primeira fase da pandemia de COVID-19. Ao que o JN apurou junto da Ordem dos Psicólogos Portugueses, a última previsão aponta para a publicação da listagem no próximo mês de outubro.
Inês Schreck, ines@jn.pt
Fonte: Jornal de Notícias, edição impressa, Antena 1, 25 de agosto de 2021