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Vitória, vitória? Não, não é assim que se acaba a história

Vitória, vitória? Não, não é assim que se acaba a história
02 de Setembro de 2021

Muita tinta já correu desde a semana em que foram anunciadas as novas regras de venda de alimentos nas escolas, com a proibição de alguns alimentos considerados menos saudáveis. Acabaram-se os doces e os salgados, foi o fim do pão com chouriço e das bolas de Berlim. Mas reforcemos: nas escolas. É importante que saibamos que se trata de estabelecimentos de ensino público. Locais onde a educação, a literacia e a sensibilização são pedras basilares do seu propósito. 


Se ensinamos as nossas crianças a fazer contas, a ler e a escrever, se damos atenção à reciclagem e às bases da cidadania, por que não explicamos também como e o que devem comer, para que sejam adultos saudáveis? 


Mais do que proibir, há que ensinar. Não podemos dizer às crianças que não podem brincar no meio da estrada, sem lhes explicar que passam carros e que é perigoso. Algo tão simples e que aos nossos olhos nos parece evidente. O conhecimento e a capacidade crítica são componentes fundamentais para a mudança de comportamentos, pelo que é tão importante investir na literacia alimentar dos alunos, dos seus pais e outros educadores para melhorarem os seus hábitos alimentares. Não podemos negar doces e salgados, sem lhes explicar os malefícios que trazem para a saúde de cada um, nomeadamente para o seu peso, e que podem causar várias doenças. Por outro lado, devemos envolvê-los para uma alimentação saudável, sustentável e saborosa. Mas há que explicar!


Sabemos que 12% das crianças em Portugal têm obesidade, segundo o já tão conhecido COSI (Childhood Obesity Surveillance Initiative), um sistema de vigilância da obesidade infantil em Portugal. O que significa que 12 em cada 100 crianças terão mais propensão para vir a desenvolver outras doenças crónicas como a diabetes ou a hipertensão. Este cenário pouco animador faz-nos aplaudir o Ministério da Educação, naturalmente, pela capacidade de olhar para a alimentação nas escolas. Disponibilizar-se donuts, hambúrgueres, pizas, rissóis ou empadas nas escolas em pleno 2021 não é aceitável. A oferta alimentar nas escolas deve ser claramente salutogénica. Principalmente depois de tantos estudos que mostram que o ambiente alimentar é determinante para as escolhas saudáveis e, bem sabemos, que a alimentação das nossas crianças não é a melhor. É, por isso, uma medida positiva, mas que chega atrasada e incompleta. Não nos esquecemos que estava prevista no Orçamento do Estado para 2020, assim como a contratação de 15 nutricionistas para o Ministério da Educação. Mas já lá vamos.


Uma medida isolada não é uma vitória. Não é (só) a proibir que se acaba a história. É preciso olhar para a alimentação e para a promoção de hábitos saudáveis como uma prioridade, que carece de uma estratégia integrada e para cuja elaboração e operacionalização os nutricionistas têm de ser tidos e achados! 


É, sem dúvida, para as faixas etárias mais jovens que devemos direcionar os nossos maiores esforços, se pretendemos, a longo prazo, ter uma população portuguesa mais saudável. No entanto, o Ministério da Educação tem apenas dois nutricionistas para quase 1,3 milhões de alunos. 


Já em 2020, saudámos os nossos governantes por terem incluído no Orçamento do Estado a contratação de 15 nutricionistas para o Ministério da Educação que, de norte a sul do país, teriam a capacidade de intervir ao nível da comunidade escolar, promovendo a informação e a capacitação para escolhas alimentares saudáveis e ao nível do ambiente alimentar escolar, zelando pela garantia do controlo da adequação nutricional da oferta nas escolas e a respetiva monitorização.  Mas esta contratação ainda não se concretizou.


Não basta proibir a venda de alguns alimentos nas escolas, é necessário contribuir para a formação e capacitação das crianças e jovens. E isto, sabemo-lo há muito, só será possível no momento em que os nossos governantes decidirem trabalhar como um todo e construírem uma estratégia robusta. Até lá, a educação alimentar das nossas crianças continuará imperfeita.

Até lá, não gritamos vitória, nem se acaba a história. 




Fonte: EGGAS, online, 2 de setembro de 2021