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As nossas ações são o nosso futuro – pela saúde de todos e pelo planeta

As nossas ações são o nosso futuro – pela saúde de todos e pelo planeta
16 de Outubro de 2021

Hoje comemora-se o Dia Mundial da Alimentação, um dia que não podemos deixar, evidentemente, de assinalar. Este ano, proponho um exercício a todos nós, enquanto cidadãos. Um exercício em que visualizamos o cenário ideal e em que analisamos o que podemos fazer, daqui para a frente e utilizando este dia como ponto de partida, para garantirmos mais saúde para cada um de nós e um melhor futuro para as gerações seguintes. O futuro da alimentação está nas nossas mãos.


Imaginemos por alguns momentos que todos os portugueses seguiam um padrão alimentar saudável e sustentável, isto é, uma alimentação com produtos sazonais, baseada nas porções de cada tipo de alimento recomendadas e escolhendo produtos de proximidade, reparando, de facto, na origem daquilo que compramos, da couve, à laranja, da dourada, ao frango.


No cenário ideal, todos teríamos condições económicas e literacia para fazer boas escolhas alimentares e todos teríamos sido estimulados, desde pequenos, a comer hortícolas e frutas com regularidade, bem como a evitar os alimentos com excesso de sal, açúcar e gordura. Não teríamos, igualmente, esquecido os ensinamentos dos nossos antepassados e passado a reger a nossa alimentação com base em modas que sugerem que devemos comer quinoa ou bagas de goji a cada refeição.


Ao mesmo tempo, não haveria a tentação de rechear a mesa do dia a dia com frutas exóticas, nem a vontade de comer morangos ou cerejas durante todo o ano, em qualquer que seja a estação.


Esta é uma chamada de atenção para que todos, em conjunto, possamos rever os nossos comportamentos e analisar o seu impacto na nossa saúde e no planeta.


E, se é verdade que muito falta fazer ao nível da ação governamental para garantir que todos têm acesso a escolhas alimentares saudáveis e sustentáveis, assim como à promoção de bons hábitos, também é verdade que muito tem sido feito nos últimos anos. Recentemente assistimos à publicação de um referencial de atuação integrada para um sistema alimentar sustentável e saudável - a Estratégia Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional –, que prevê a implementação de um conjunto de medidas asseguradas por diversas entidades competentes, sob a coordenação do Ministério da Agricultura. Esperemos que este seja um instrumento para passar do papel à ação para melhor produção, melhor nutrição, melhor ambiente e melhor vida.


De facto, muito há ainda a fazer. E hoje importa lembrar que as nossas ações são o nosso futuro.


Desde logo, é imperativa a diminuição drástica do desperdício alimentar. Neste domínio, não temos dados recentes que nos permitam implementar estratégias eficientes e monitorizá-las pelo que urge recolher dados que permitam obter um diagnóstico realista sobre o nível de perdas alimentares em Portugal, nas diversas fases da cadeia alimentar. Aliás, já está prevista, em legislação de julho passado, a realização de um Inquérito Nacional sobre o Desperdício Alimentar em Portugal. Importa pô-lo em marcha!


Mas, dados de 2012 indicavam que em média, a nível nacional, 17% da produção anual de alimentos teria como destino o caixote do lixo, o que equivale a 1 milhão de toneladas de alimentos – números aterradores, atrevo-me a sublinhar, se pensarmos, a par disto, em quantas pessoas em Portugal não têm alimentos suficientes disponíveis para suprirem as suas necessidades. Quando pensamos que quase um terço deste desperdício acontece nas nossas casas, o caso fica ainda mais sério.


Mas este não é o único fator que advém diretamente das nossas escolhas e ações.


Olhemos para o caso da sazonalidade ou da produção local de alimentos. Hoje em dia, encontramos em todos os estabelecimentos todo o género de frutas e hortícolas em todas as épocas do ano e seja qual for a nossa localização geográfica. Bananas da Costa Rica, laranjas da África do Sul, batatas de Espanha ou tomates da Alemanha são apenas alguns exemplos de frutas, tubérculos e hortícolas que ilustram a realidade dos estabelecimentos portugueses.


Apesar de esta vasta oferta ser um benefício do ponto de vista da variedade, uma vez que podemos contactar, hoje, com os mais variados alimentos e garantir uma grande diversidade na nossa alimentação, também é verdade que a desejada diversidade se pode constituir com produtos nacionais, e também é verdade que esta oferta representa uma responsabilidade acrescida para os consumidores que têm de ter em consideração que comer pêssego importado e durante todo o ano representa um encargo elevadíssimo  para o planeta (ao nível do gasto de recursos) quando comparado com optar por comprar pêssegos nacionais, apenas durante a sua época preferencial de consumo.


Por todas estas razões, é fundamental que encaremos de ora em diante a nossa alimentação como uma arma poderosíssima para o combate às alterações climáticas, bem como contra as doenças crónicas como a obesidade, cancro ou diabetes.


Sabemos que muitas das tecnologias de produção de alimentos e o seu transporte têm um grande peso na emissão de gases com efeito de estufa, por isso, da próxima vez que formos às compras, estejamos atentos a etiquetas e indicações do local de proveniência dos nossos alimentos, saibamos interpretar rótulos e tenhamos em mente o calendário da época ideal de cada fruta e hortícola, bem como as noções de porções e quantidades de cada alimento que devemos consumir. Façamos este pequeno esforço e apostemos no equilíbrio, comendo de tudo, mas privilegiando sempre alimentos de proximidade e sazonais. E para que a nossa saúde também ganhe aumentemos a ingestão de alimentos de origem vegetal, em detrimento dos de origem animal, uma opção mais amiga do ambiente, adotando os preceitos da dieta mediterrânica, um padrão alimentar reconhecidamente salutogénico.


Façamo-lo, juntos, a partir de hoje, por todos, pela nossa saúde e pelo planeta.



Alexandra Bento

Bastonária da Ordem dos Nutricionistas




Fonte: Jornal Público, edição online,16 de outubro de 2021