A cidade de Roma acolhe, entre 19 e 21 de novembro, a 2ª Conferência Internacional sobre Nutrição, organizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), que este ano se debruçará sobre o problema da malnutrição, em todas as suas formas, a nível mundial, procurando refletir e identificar desafios e encontrar oportunidades para os combater ao longo das próximas décadas.

A Segunda Conferência Internacional sobre Nutrição, organizada 22 anos após a primeira, em 1992, foi convocada devido ao impacto das mudanças ocorridas na economia mundial, nos sistemas alimentares e no estado nutricional das pessoas ao longo das últimas duas décadas. Na sede da FAO, encontram-se a participar no encontro vários líderes e representantes de muitos países de todo o mundo, juntamente com organizações intergovernamentais, organizações não-governamentais, investigadores, membros da sociedade civil, fundações, consumidores e muito mais.

A Conferência surge do reconhecimento do impacto que a malnutrição assume em diversas componentes das estruturas sociais, políticas e económicas, particularmente no potencial humano e na produtividade, que afetam social e economicamente os indivíduos, as famílias, as comunidades e os próprios Estados de cada país.

Reconhece-se, logo à partida, que a raiz das causas e dos fatores que levam à malnutrição são complexos e transversais. A pobreza, o subdesenvolvimento e os estratos socioeconómicos baixos são apresentados como um dos principais fatores que contribuem para a malnutrição nas áreas urbanas e rurais.

Da mesma forma, destacam-se as limitações no acesso permanente e suficiente a alimentos de qualidade, as epidemias, como o vírus do Ébola, e o acesso precário das crianças a uma alimentação e a cuidados adequados, tais como a falta de saneamento, de higiene, de acesso a educação, a sistemas de saúde de qualidade, a água potável e a comida segura.

Os problemas de malnutrição são coexistentes entre grande parte dos países e os riscos associados afetam todos os grupos socioeconómicos, sejam eles resultado de fatores que influenciam a qualidade e a segurança alimentar diretamente ou de fatores provocados pelas alterações ambientais.

Destas reflexões e discussões, que a comissão organizadora da Conferência entende como urgentes a ter, pretende-se ajustar um enquadramento político focado nos grandes desafios da Nutrição que o mundo enfrenta atualmente e salienta a importância e as prioridades no âmbito do reforço da cooperação internacional em matéria de nutrição, assente na reafirmação do direito dos cidadãos ao acesso a uma alimentação adequada.

Neste contexto, a Declaração de Roma sobre Nutrição, documento resultante da Conferência, irá reafirmar a urgência na erradicação da malnutrição em todas as suas formas para a saúde e para diversas questões éticas, politicais, sociais e económicas. Reconhece que as políticas nutricionais devem promover a diversidade, o equilíbrio e a alimentação saudável em todas as fases da vida bem como a importância da existência de ações articuladas entre diferentes atores regionais, nacionais e internacionais. Salienta ainda que a alimentação não deve ser utilizada como um instrumento de pressões políticas e económicas e que os preços no âmbito da alimentação e da agricultura podem assumir um impacto negativo na qualidade da alimentação, pelo que devem ser monitorizados e adaptados os desafios que enfrentamos.

A melhoria da alimentação e da nutrição requer legislação relevante para assegurar a qualidade e segurança alimentar, e ainda o desenvolvimento de indicadores e recolha de dados de forma a contribuir eficientemente para as políticas nutricionais dos países e para a sua vigilância.

O papel do consumidor no processo de desenvolvimento deve ser refletido, pelo que deve ser capacitado de forma a efetuar escolhas informadas relativamente ao consumo e práticas alimentares.

Relativamente aos sistemas nacionais de saúde estes devem integrar a nutrição, proporcionando o acesso para todos numa de abordagem continuada dos cuidados, incluindo a prevenção de doença e a promoção de saúde, o tratamento e a reabilitação e contribuir para a redução das desigualdades, através da identificação das necessidades específicas relacionadas com a nutrição e vulnerabilidade de grupos populacionais distintos.

Com base em tudo isto, a Declaração de Roma sobre a Nutrição contemplará diversos pontos e estratégias que auxiliarão no combate à malnutrição e, sobretudo, melhorar a qualidade dos alimentos sob o lema "Better Nutrition, Better Lives".

Assim, a Declaração pretende contribuir para a erradicação da fome e para a prevenção de todas as formas de malnutrição no mundo, aumentar os investimentos em intervenções e ações eficientes e aumentar a sustentabilidade dos sistemas de alimentação, desenvolvendo politica públicas coerentes desde a produção até ao consumo. Mais ainda visa aumentar o peso da Nutrição através de estratégias nacionais, politicas, planos de ação e programas e aumentando a capacitação e o poder dos cidadãos e das instituições através da investigação científica e socioeconómica, bem como através do desenvolvimento, inovação e transferência de tecnologias apropriadas.

O poder e a facilidade nas contribuições e ações dos stakeholders são um ponto estratégico no desenvolvimento da nutrição e na promoção da colaboração entre países.

No fundo, a 2ª Conferência Internacional sobre Nutrição e própria Declaração de Roma sobre a Nutrição procuram promover o desenvolvimento de políticas, programas e iniciativas que que assegurem o reconhecimento da importância da alimentação adequada nos diversos estágios da vida e aumentar a literacia alimentar dos cidadãos através da implementação dos seus compromissos.

Poderá assistir a alguns eventos do encontro através deste link.