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Discurso do Presidente do Conselho Jurisdicional

Discurso do Presidente do Conselho Jurisdicional
28 de Abril de 2012


Começo com dois agradecimentos, necessários, sempre necessários mesmo que já repetidos hoje aqui.


Aos colegas, que ao longo destes últimos anos, retiraram muitas horas do contacto com a família e do seu descanso pessoal para podermos estar aqui hoje, todos reunidos, neste momento tão especial.


Aos colegas, que se empenharam nos últimos anos e de forma completamente desinteressada a construir o documento “Princípios Orientadores para a Ética Profissional dos Nutricionistas” que foi um laboratório fértil de ideias e de consensos em torno dos princípios éticos e deontológicos que esperamos serem a base para o trabalho futuro da Comissão Deontológica.


Durante este tempo de discussão com este grupo de trabalho e de construção de pensamento comum à volta desta nova profissão ganharam corpo algumas ideias. Gostaria de partilhar convosco três das mais importantes:


Actualmente, é possível observar-se nutricionistas e dietistas com responsabilidades crescentes em áreas tão díspares como a alimentação no desporto olímpico, nos cuidados de saúde primários, no exército, na consultadoria de empresas do ramo alimentar, na gestão de refeitórios hospitalares, nos cuidados alimentares a doentes terminais ou na primeira linha das equipas internacionais de intervenção humanitária, só para nomear algumas áreas de intervenção. Como se pode depreender desta amostra, somos ainda muito poucos e a fazer coisas muito novas e de elevada responsabilidade. A trilhar profissionalmente caminhos inovadores e a arriscar muitas vezes. Temos ainda a responsabilidade de sermos os primeiros, que os segundos, em muitos casos (bem ou mal) irão ter como referência.


Estamos por isso em constante avaliação. Com frequência somos comparados com outros quanto à eficácia da nossa intervenção, quanto à nossa conduta ética e sentido profissional.


Estamos também a ser os primeiros a ser confrontados com determinados problemas. Em alguns casos acertámos na sua superação. Noutros errámos. Ao acertarmos, acertámos todos. E ao errar não errámos só nós. Errou toda a nossa classe profissional.


Com a criação de um Conselho Jurisdicional e de um Código Deontológico no seio da nossa profissão temos, pela primeira vez, a possibilidade de errarmos melhor. Ou seja, de construirmos um código que aglutine (de forma permanente e em aperfeiçoamento continuado) o conjunto das nossas experiências e dos comportamentos esperados nas circunstâncias mais diversas, possibilitando uma reflexão antecipada para julgamento e distinção do certo e do errado. Desta forma, e com o contributo de todos, a profissão será melhor e mais respeitada pelos outros e pela sociedade em geral, mas acima de tudo permitirá que trabalhemos num formato mais reflectido, mais íntegro, mais transparente e mais solidário profissionalmente.


Mas, para além das questões deontológicas, a nossa classe não pode estar afastada das grandes questões éticas que nos devem distinguir enquanto especialistas da Nutrição e Alimentação fazendo a ponte entre a produção e o consumo de alimentos. A alimentação (englobo aqui a produção, o transporte e o consumo de alimentos) é, provavelmente, a actividade humana à face da terra que mais influencia a vida no planeta. A forma como nos alimentamos, como escolhemos os alimentos, é o maior determinante do gasto de água e um dos principais responsáveis, se não o principal, pela emissão de carbono para a atmosfera. A escolha de alimentos, para além de influenciar decisivamente a nossa saúde tem impactos extraordinários na vida no nosso planeta, na sua biodiversidade e no que queremos deixar aos nossos filhos. Este é um desafio ético, entre muitos, que temos de abraçar presentemente.


Outro, prende-se com a actual situação de catástrofe económica e social que se abate sobre a Europa e muito particularmente sobre os países mediterrânicos. Actualmente, muitos milhares de portugueses chegam ao final do dia sem uma refeição completa. Em muitos casos passam mesmo fome. Esta situação que atinge, no mais íntimo, a integridade de muitas famílias, a sua honra e auto-estima é um tremendo desafio para esta nova profissão que certamente não quererá assistir passiva a esta situação. Em especial quando estão em causa os direitos mais básicos do ser humano e quando os Nutricionistas e Dietistas têm conhecimentos suficientes para minorar de forma qualificada e profissional esta situação, sem cair em assistencialismos improvisados ou ofertas de ocasião.  


Caros colegas, como se pode constatar a nossa profissão tem enormes responsabilidades e desafios éticos e deontológicos pela frente nos próximos anos. Apesar de complexos são estes desafios que tornam esta profissão tão interessante e apelativa.


O Conselho Jurisdicional agradece a confiança transmitida pela Sra. Bastonária e pelo Conselho Geral e depositada nos seus membros para atingir os objectivos propostos. E espera o vosso apoio, o apoio inteligente, vibrante e entusiasta de todos os membros da Ordem que será certamente decisivo para a qualidade do nosso trabalho nos próximos tempos. Muito obrigado pela atenção.