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250 mil portugueses têm obesidade mórbida

250 mil portugueses têm obesidade mórbida
11 de Outubro de 2019

Como prevenir, o que fazer, como meter na cabeça que este problema é sério, um risco para a saúde? Hoje, sexta-feira, é Dia Mundial da Obesidade. Alexandra Bento, bastonária da Ordem dos Nutricionistas, faz o diagnóstico da situação. "A obesidade é a epidemia do século XXI", alerta.


Os números dão que pensar: 1,4 milhões de adultos portugueses estão em situação de obesidade e 250 mil têm obesidade mórbida. Em Portugal, neste momento, 10% da despesa total de saúde destina-se a tratar doenças relacionadas com o excesso de peso, percentagem acima da média dos países da OCDE, e apenas 1% é gasto em prevenção, percentagem abaixo da média da OCDE. “É preciso pensar com seriedade nestes números. O caminho para reduzir a prevalência da obesidade deverá começar com uma aposta forte em medidas de prevenção”, avisa Alexandra Bento, bastonária da Ordem dos Nutricionistas.


O que é preciso meter na cabeça, de uma vez por todas, sobre a obesidade? Alexandra Bento responde sem paninhos quentes. “A obesidade é a epidemia do século XXI. Reduz a qualidade de vida, reduz a esperança de vida, prejudica o rendimento escolar das crianças e laboral dos adultos e trava o crescimento económico dos países.” “O excesso de peso e a obesidade não param de aumentar em Portugal e nos países de OCDE e se nada for feito, entre 2020 e 2050, esta doença vai diminuir a esperança média de vida dos portugueses em 2,2 anos e custar muitos milhões de euros ao Estado”, acrescenta.


Hoje é Dia Mundial da Obesidade e a mensagem a passar nesta data vem com pontos preocupantes. A obesidade é uma doença crónica e fator de risco para o surgimento de outras patologias, como as doenças cardiovasculares, a diabetes e alguns tipos de cancro. “O investimento na sua prevenção tem um retorno muito positivo e, por isso, a grande aposta é seguir este caminho”, sublinha a bastonária.



A obesidade é uma doença crónica e fator de risco para o surgimento de outras patologias



Não há muito tempo, dados do 2.º Grande Inquérito da Sustentabilidade em Portugal revelaram que os portugueses querem mais medidas de promoção de uma alimentação saudável. Segundo o inquérito, oito em cada 10 portugueses consideram que o Governo deve intervir para promover hábitos alimentares mais saudáveis. Para Alexandra Bento, a prevenção é o melhor investimento, com especial destaque em políticas que promovam estilos de vida saudáveis. “O Serviço Nacional de Saúde carece de condições necessárias para desencadear medidas para prevenir a obesidade, e para tratar esta doença, basta lembrar o facto do número insuficiente de nutricionistas no SNS”, lembra. Em todo o SNS trabalham cerca de 400. “Números que são claramente insuficientes considerando a atual prevalência da obesidade e das doenças crónicas associadas e o seu impacto na saúde dos portugueses, e também nos cofres do Estado.


E como estamos em termos de políticas públicas em relação à obesidade? Pede-se mais intensidade nas políticas de promoção da alimentação saudável. No tratamento, alerta-se para uma abordagem individualizada de forma a garantir “o acesso a consulta com nutricionista, para prescrição da respetiva terapêutica nutricional, no sentido de se promover mudanças de comportamentos sustentáveis.”



Neste momento, trabalham apenas 100 nutricionistas nos centros de saúde, quando seria necessário um mínimo de 500



A bastonária recorda que um estudo recente da Entidade Reguladora da Saúde sobre Cuidados de Saúde Prestados no SNS na área da Obesidade indica que, e citando, “a capacidade de resposta dos cuidados de saúde primários nesta área encontra-se diminuída pela constante carência de nutricionistas nos ACES [Agrupamento de Centros de Saúde].” Mantém-se, portanto, a carência de nutricionistas nos cuidados hospitalares para dar apoio aos doentes com obesidade. “O mesmo relatório refere, aliás, que o tratamento da obesidade é a área com a maior taxa de incumprimento dos tempos máximos de resposta garantidos, tanto para a primeira consulta de especialidade como para a cirurgia programada.”


Como prevenir, como atuar, como explicar que a obesidade é um risco sério para a saúde? Há dois eixos estratégicos para a prevenção da obesidade em Portugal: a modificação da oferta alimentar e o aumento da literacia alimentar dos portugueses. “O nosso país encetou uma aposta na modificação da oferta alimentar, designadamente com a implementação de medidas intersetoriais como o plano para a reformulação dos teores de sal, açúcar e ácidos gordos trans dos produtos alimentares, o imposto especial de consumo sobre as bebidas açucaradas, a modificação da oferta alimentar em determinados espaços públicos, bem como a restrição à publicidade alimentar dirigida a crianças.”


No entanto, é preciso trabalhar as questões da capacitação dos cidadãos, nomeadamente com mais locais onde se possa transmitir informação sobre alimentação saudável, como escolas, por exemplo. É fundamental ensinar desde cedo, enraizar conhecimentos que perdurem na idade adulta. E modificar atitudes para que, sustenta, “os portugueses possam fazer escolhas alimentares mais saudáveis, informadas e conscientes.” “Para tal, importa garantir a presença de nutricionistas no terreno, seja em escolas, autarquias e no SNS, fundamentais para o aumento da literacia das populações”, defende.



Fonte: Notícias Magazine, online, 11 de outubro de 2019